21 nov Semear Internacional encerra intercâmbio na Argentina que reuniu técnicas e beneficiárias de projetos do FIDA Brasil em quatro dias de atividades
Foi encerrada na manhã do último sábado (10), na cidade de Embarcación, província de Salta, Argentina, a primeira edição dos “Intercâmbios de Saberes nos Semiáridos da América Latina – Acesso aos recursos naturais e mapeamento participativo – Chaco Trinacional”. As oito brasileiras de projetos apoiados pelo FIDA no Brasil que participaram do evento junto a uma comitiva composta por representantes de vários países da América Latina receberam os certificados da coordenação do evento, em solenidade que marcou o encerramento dos cinco dias de trabalho.
Além dos projetos do FIDA na Paraíba (Procase), Piauí (Viva o Semiárido), Sergipe (Dom Távora) e Ceará (Paulo Freire), através do Semear Internacional, foram mobilizadas para integrar a comitiva brasileira que participou deste intercâmbio, entidades como o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), International Land Coalition, Plataforma Semiáridos da América, FUNDAPAZ, Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, Serviços de Assessoria a Organizações Populares Rurais (Sasop), Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (Cetra), Caatinga, Fundación Nacional para el Desarrollo – El Salvador (FUNDE), Fundação Avina, Serviço Mundial de Igrejas (CWS), Sistema de Investigación sobre la Problemática Agraria en el Ecuador / Estrategia Nacional de Involucramiento (SIPAE / ENI Ecuador) e Centro de Estudios Regionales para el Desarrollo de Bolivia – CERDET.
Entre os dias 06 e 10 de novembro foram realizadas 8 visitas de campo, reuniões locais, apresentações individuais e rodadas de conversa sobre temas ligados a acesso à água e à terra na realidade dos moradores da zona rural da região do “Chaco Trinacional”, que compreende parte da fronteira entre a Argentina, Paraguai e Bolívia. As atividades ocorreram na província de Salta, região norte da Argentina.
A abertura do evento aconteceu em Salta, com a presença de um representante do Governo da Província e todas as entidades envolvidas na coordenação do evento. Logo em seguida a comitiva seguiu para visitas em campo, que ocorreram em comunidades rurais das cidades de Los Blancos e Morillo. Entre as experiências visitadas, a comitiva conheceu um trabalho de mapeamento participativo no processo de divisão de terras realizado pelos próprios moradores de aldeias indígenas da região, a exemplo da comunidade Wichi Lewhetes recém assentada após a aldeia ter sido destruída em um desastre ambiental.
“Esta visita nos despertou para a necessidade de uma formação de mapeadores aqui no Brasil. Tivemos uma longa conversa com o cacique da tribo que explicou em detalhes como se deu este reassentamento a partir desta metodologia. Após o final dos trabalhos lá na Argentina, já começamos os primeiros contatos para que viabilizemos uma ação de formação que deverá ocorrer aqui no Brasil direcionado a técnicos e beneficiários dos projetos FIDA e parceiros estratégicos.”, explicou a gerente de Cooperação Sul-Sul do Programa Semear Internacional, Ruth Pucheta, que representou o FIDA durante todo o evento. O especialista em Cooperação Técnica do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Rodolfo Daldegan, que supervisiona o Semear Internacional, representou o IICA durante o evento.
A comitiva conheceu ainda uma experiência de captação de água que uma escola municipal desenvolveu há cerca de um ano, um trabalho fruto de intercâmbios com experiências no semiárido brasileiro. A técnica foi desenvolvida para assegurar o abastecimento de água de 70 alunos também da comunidade Wichi Lewhetes, localizada na cidade de Morillo. Após a implantação, a comunidade conseguiu autonomia para garantir água para consumo durante todo o ano letivo.
O protagonismo feminino também foi uma das temáticas do intercâmbio. No segundo dia de visitas, a comitiva conheceu a história de Lucia, presidenta da Associação Criolla Unión y Progreso de Morillo, que conseguiu liderar um processo intenso de demarcação de terras para camponeses criadores de gado, a negociação de uma lei provincial que suspende os despejos camponeses; fundar uma rádio comunitária; tocar sua comunidade e dividir seu tempo em criar as filhas.
O Intercâmbio também reservou um momento de apresentações para as brasileiras mostrarem o trabalho desenvolvido em suas regiões com o apoio dos projetos do FIDA no Brasil. Da Paraíba foi mostrado a arte das louceiras de Santa Luzia e melhoramento do trabalho daquelas mulheres. Do Ceará, a atuação de doze jovens de uma comunidade quilombola que assumiram toda a direção da associação. De Sergipe, o processo de desenvolvimento produtivo da comunidade quilombola na área de turismo de base comunitária. E do Piauí, o processo de reconhecimento de uma comunidade quilombola e acesso a terra em um assentamento.
O Intercâmbio foi uma realização do FIDA, IICA, Programa Semear Internacional, Plataforma Semiáridos da América e FUNDAPAZ, em parceria com a International Land Coalition e Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá.
Mapeamento Participativo
A metodologia implementada por indígenas e criollos na região do Chaco Trinacional, e que o Semear Internacional buscará replicar no Brasil, foi uma técnica que utilizada para definir a pontos de uso dos recursos naturais por ambos os grupos e que permitiu iniciar o processo de negociação entre eles, assim como de demarcação do território seja com o governo ou com particulares. Ele também facilitou a identificação de um local adequado para reassentamento das famílias de La Curvita, após um desastre natural atingir a antiga sede do povoado indígena.
Durante a visita da comitiva do intercâmbio, o cacique da aldeia mostrou detalhes de como foi feito este processo e tirou dúvidas dos brasileiros sobre a metodologia. A reunião ocorreu na sede da nova aldeia que ainda está em construção por eles estarem naquela região há pouco menos de um ano.
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